Os consumidores de hortaliças estão exigentes na procura por alimentos saudáveis, seguros e de elevada qualidade. Atender a essa pressão dos consumidores locais e também do mercado internacional tem sido um desafio para a produção integrada.
Na Produção Integrada de Hortaliças, a aplicação de boas práticas agrícolas busca favorecer os recursos naturais, a redução dos contaminantes e obtenção de um alimento com elevado padrão, incentivando a sustentabilidade, rastreabilidade e obtenção da certificação. O aumento de produtividade não é o principal objetivo. No entanto, com a adoção de técnicas de produção sustentáveis, por consequência, os ganhos acabam sendo conquistados pelo produtor.
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A produção integrada de hortaliças e seus benefícios
Sérgio Veiga, coordenador do Programa de Fruticultura em extensão da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), explica que a PI “não abre mão de adubos químicos e defensivos. Ela preconiza uma série de normas para garantir o uso racional dos insumos, usando apenas produtos recomendados para cada cultura e respeitando períodos de carência, e trabalha boas práticas de produção para ter alimentos sem resíduo.”
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) descreve que a produção integrada (PI) é um sistema de produção de alimentos de origem vegetal, caracterizado pela aplicação de um conjunto de normas técnicas, que garantem a segurança do alimento contra contaminações químicas, físicas e biológicas. As normas técnicas fazem o uso de boas práticas agrícolas (BPA), cujo objetivo está na promoção da sustentabilidade, conservação do meio ambiente, competitividade dos produtos, produtividade e redução dos riscos ao produtor, colaboradores e ao consumidor final.
A Produção Integrada de Hortaliças (PIH) já é uma realidade em várias regiões do Brasil. Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Distrito Federal e São Paulo, são alguns estados com ampla expansão de áreas com produção integrada de hortaliças. A adoção de sistemas sustentáveis, como o da PI, além de garantir a obtenção de um alimento seguro com alto padrão de qualidade, pode reduzir em até 30% os custos de produção de hortaliças folhosas e aumentar a produtividade em até 100%, em alguns casos.
O pesquisador da Embrapa Hortaliças, Jorge Anderson Guimarães, ao se referir às hortaliças folhosas, explica que “os benefícios econômicos para o agricultor são percebidos nas etapas de produção, com a redução dos custos obtidos com a aplicação racional de fertilizantes e agrotóxicos; na comercialização, com a oferta de um produto com maior valor agregado, além do acesso a novos nichos de mercado.”
Além de melhorar a renda através da redução nos custos, os riscos climáticos e fitossanitários são reduzidos, o produtor recebe orientação e responsabilidade técnica na etapa de produção primária e gestão de riscos quanto à segurança do alimento nas fases de produção, colheita e pós-colheita. Para atender a todos os procedimentos, o agricultor tem ainda o direito a uma linha de financiamento, o Inovagro, para adequar suas instalações de acordo com as normas de produção.
As culturas de batata, cebola, folhosas, inflorescências e condimentares, inhame, gengibre, melão, morango, pimentão, pimenta do reino e tomate já possuem normas técnicas específicas (NTE) para a produção integrada de hortaliças. Veja aqui, as NTE para cada uma dessas hortaliças.
Quais os passos a serem atendidos?
A adesão à PIH é voluntária, mas ganha muito o produtor que a aderir. O selo “Brasil Certificado” é concedido ao produto que cumpre as normas, atestando o uso correto de BPAs, ambientais e trabalhistas no processo de cultivo. Além da certificação, a rastreabilidade também é possibilitada com a aplicação das normas, atestando ao consumidor final a procedência segura do alimento.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabeleceu BPAs a serem atendidas para obtenção da certificação. As práticas dizem respeito desde a escolha da área de produção até a pós-colheita e beneficiamento dos produtos vegetais. As BPAs tornaram-se requisitos básicos para exportação e muitas redes varejistas no país exigem sua adoção, como o Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (RAMA) da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).
Para aderir a produção integrada de hortaliças e também de outras culturas, o procedimento legal começa com adesão e implantação das BPAs e as NTEs da cultura no processo produtivo, avaliação de conformidade dos processos de produção por meio de alguma entidade certificadora credenciada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e, se aprovado, a obtenção do selo Brasil Certificado, que atesta a produção como integrada.
Produto vegetal mais saudável na produção integrada
O pesquisador Jorge Anderson comenta que no caso da produção de hortaliças folhosas, as contaminações químicas e microbiológicas, resultantes do uso inadequado de defensivos no manejo de pragas e doenças, são um grande problema. A adoção das BPAs é fundamental para minimizar esse gargalo na produção. “Mesmo que os produtores não tenham interesse em aderir a PI, eles deveriam implementar as boas práticas em suas lavouras para conhecer a já obter os benefícios advindos desses procedimentos”, explica Guimarães.
A PIH apresenta-se como uma alternativa benéfica tanto para o produtor quanto para os consumidores. Sua adoção deve ser enfatizada para que mais produtores conheçam seus benefícios com redução nos custos de produção, aumento de produtividade, incremento na diversidade de inimigos naturais e redução de resíduos químicos nos alimentos. A baixa adesão dos produtores à PI ainda é um dos entraves à sua expansão. A sociedade também precisa conhecer o processo de produção para que possa escolher por um produto melhor. Ações em conjunto do governo, órgãos locais, produtores e consumidores devem caminhar em conjunto para o avanço da produção integrada de hortaliças no Brasil.
Segundo o Pesquisador Raimundo Sobrinho Braga, no mercado de melão, os consumidores demandam por frutas de qualidade, sabor e maturação adequados, procedentes de uma produção certificada de acordo com as normas internacionais relacionadas à segurança dos alimentos, rastreabilidade, respeito ao ambiente e às pessoas. Através da produção integrada, é possível alcançar estas premissas.
Esta matéria foi escrita em parceria com a Pesquisadora Euriann Lopes Marques Yamamoto, Doutora em Agronomia pela UFGD. Gostaria de publicar seu texto ou sua pesquisa? Nos contate através do e-mail [email protected]
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