O uso de plantas de cobertura para proteger o solo garante aos produtores rurais mais chances de sucesso durante a produção e na hora da colheita! Além de proteger o solo contra processos erosivos e a lixiviação de nutrientes, elas auxiliam no acúmulo de matéria orgânica neste, o que impacta diretamente no desenvolvimento dos materiais, possibilitando maior sanidade durante o ciclo e maior capacidade produtiva. Outra vantagem é que os produtores também podem usar as plantas de cobertura para o pastoreio, produção de grãos e sementes, silagem, feno e como fornecedoras de palhada para o sistema de plantio direto.
Quando adequadamente utilizadas, as plantas de cobertura são uma estratégia para melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Além de sua parte aérea, as raízes também tem efeitos positivos na produtividade agrícola. Algumas espécies de plantas de cobertura, como é o caso do milheto e das braquiárias, possuem a capacidade de reciclar nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas que serão cultivadas em sucessão. E no caso da maioria das leguminosas usadas como cobertura de solo, existe ainda o fator de serem fixadoras do nitrogênio atmosférico.
Em geral, em áreas de produção com altos rendimentos são observados elevados teores de matéria orgânica, que muitas vezes pode provir justamente do uso de cobertura de solos. Esta matéria orgânica é fundamental para a maior retenção de água no solo, pela disponibilidade de nutrientes para as plantas e pela estruturação do solo.
Cultivo de milheto para uso em cobertura de solo em cultivo de inverno, na Estação Experimental da Isla Sementes, em Itapuã (RS)
Milheto é rocado e reservado por alguns dias antes de ser aplicado na lavoura
As espécies vegetais utilizadas como cobertura do solo auxiliam ainda no controle de plantas daninhas, de doenças, de nematoides e de pragas, beneficiando diretamente as culturas sucessoras.Todas estas características das plantas de cobertura podem contribuir para reduzir custos de produção, especialmente com fertilizantes químicos.
Quanto ao manejo de plantas daninhas, as plantas de cobertura são ótimas aliadas do produtor. O seu efeito se dá de várias maneiras, podendo-se destacar:
Efeito alopático – as plantas de cobertura interferem na germinação, emergência e no crescimento das plantas daninhas, seja por “transpiração” eliminando substâncias pelas raízes ou por substâncias liberadas quando acontece a decomposição da parte aérea da planta, fatores que acabam impedindo ou dificultando a emergência e/ou germinação das plantas daninhas;
Cobertura do solo – a cobertura proporcionada pelas plantas de cobertura se constitui numa barreira física, que limita a presença de luz, interferindo no crescimento de plantas daninhas ou até mesmo barrando este, como ocorre com aquelas de difícil controle como é o caso da Buva. A Brachiaria ruziziensis, é exemplo de uma espécie de planta de cobertura muito eficiente no controle de plantas daninhas.
Cultivo de milheto para aplicação como cobertura de solo, técnica que garante melhor desenvolvimento dos materiais
As plantas de cobertura também auxiliam no manejo de nematoides. Crotalaria spectabilis e Crotalaria ochroleuca são exemplos de plantas de cobertura que auxiliam no manejo dos principais nematoides que causam dano econômico às espécies cultivadas para produção de grãos e fibras. As plantas de cobertura também são uma importante estratégia para manejo de doenças e pragas. As braquiárias, por exemplo, são excelentes no manejo do mofo branco, doença que está se tornando cada vez mais grave em várias regiões, causando danos às culturas de feijão e algodão.
Como escolher o tipo ideal de planta de cobertura para a sua lavoura
Uso de cobertura de Brachiaria
Para garantir o sucesso, é importante prestar atenção a alguns detalhes. A espécie de planta de cobertura a ser cultivada deve apresentar algumas características, como: proporcionar boa cobertura do solo; ser de fácil estabelecimento; apresentar crescimento rápido; não ser hospedeira preferencial de doenças, pragas e nematoides; permitir a colheita de grãos ou o pastejo animal no período de entressafra, apresentar sistema radicular vigoroso e profundo e produzir matéria seca em quantidade suficiente para a semeadura direta.
Geralmente, são usadas como plantas de cobertura gramíneas, como o milheto, sorgo, brachiaria e aveia, ou as leguminosas, como crolatária, guandú-anão e mucuna-preta. Também é possível conciliar ambas, otimizando os resultados. Não existe uma espécie de planta de cobertura que se adeque a toda e qualquer condição ecológica. Para cada ambiente e dependendo da cultura sucessora, deverá haver um conjunto de espécies mais adequadas. Por isso, antes de investir na cobertura de solo, o ideal é realizar um diagnóstico das limitações atuais do seu sistema de produção, o que irá auxiliar na escolha das espécies com maior potencial em agregarem benefícios para o sistema.
O cultivo de espécies de plantas de cobertura pode ser feito utilizando-se uma única espécie, duas ou mais espécies semeadas ao mesmo tempo na mesma área. A semeadura simultânea de mais de uma espécie sobre o ponto de vista de melhoria da biodiversidade do sistema é inquestionável. No entanto, tudo irá depender do propósito que se tem com o cultivo da planta de cobertura e das espécies consorciadas.
Uso de plantas de cobertura para semeadura em SPDH na propriedade do horticultor Elton Bobsion, em Maquiné-RS
Também é fundamental entender as condições ideais para o crescimento e desenvolvimento das plantas de cobertura, se atendo a época ideal de plantio das plantas de cobertura e seu comportamento durante a estação, por exemplo. Quando cultivada fora da época indicada, por ser sensível a duração do fotoperíodo, a Crotalaria spectabilis tem o seu crescimento vegetativo reduzido, iniciando o período de frutificação quando as plantas ainda estão com altura reduzida, diminuindo a produção de matéria seca e aumentando as condições favoráveis à incidência de mofo-branco,o que pode trazer impactos negativos aos produtores. Nestes casos, nossa recomendação é estudar as alternativas de plantas de cobertura e junto a um técnico agrícola compreender o que é mais adequado para a sua região e lavoura.
A tomada de decisão sobre o cultivo de uma espécie como planta de cobertura deve ser precedida de um profundo conhecimento acerca da espécie em questão para evitar qualquer tipo de frustração em termos de produção e benefícios e até mesmo a disseminação de pragas, doenças e nematoides.
O cultivo dessas deve ser precedido de cuidados agronômicos e também deve ser considerada a espécie a ser cultivada na sequência. É fato que o uso de plantas de cobertura tem uma certa “restrição” de boa parte do setor produtivo, já que não resulta em retorno financeiro direto e imediato. No entanto, os reflexos e entraves dos sistemas de produção atuais, baseados em sucessão de cultivos, indicam de forma clara o papel dessas espécies na diversificação e viabilidade dos sistemas de produção.
Captura de carbono no SPDH: redução de gases de efeito estufa e fertilidade do solo
Fonte: Embrapa Hortaliças