Muito comum em épocas mais secas e quentes, a traça do tomateiro (tuta absoluta) é uma das pragas mais comuns e que mais apresentam riscos aos produtores de tomate. Ela é responsável por causar danos significativos nas plantas (desde às folhas até os frutos), podendo acarretar em enormes prejuízos econômicos aos horticultores e até mesmo na perda de toda a produção. Sua presença também afeta a sanidade dos materiais, uma vez que o ataque da traça pode facilitar a contaminação por patógenos. Para evitar a praga, produtores devem ficar atentos aos menores indícios de seu aparecimento, aliando técnicas de monitoramento e controle da praga.
Super Campo de Verão 2019 contou com roda de conversa sobre Traça do Tomateiro
Lavoura atacada pela traça do tomateiro
Camila Correia Vargas e Matheus Gomes, da empresa Bioin e o Eng. Agrônomo e pesquisador Nelson Weber, ministraram roda de conversa sobre traça do tomateiro na Estação Experimental da ISLA, em itapuã. Nela, além de mostrar em campo as fases de desenvolvimento da traça e o seu comportamento, foram abordadas soluções de controle biológico e novas possibilidades para os produtores combaterem a praga.
Abaixo transcrevemos as falas do encontro, para que vocês fiquem por dentro do controle da traça do tomateiro e do uso do Trichogramma como solução:
Camila: Tenho uma startup na área de biotecnologia e controle biológico. E vim para conversar sobre o que estamos acompanhando de ataque de tuta e como entendemos isso hoje, como são feitos os controles e também precisamos falar um pouco sobre a questão de monitoramento, que é tão importante e essencial quando se fala de tuta. O seu ataque tem sido muito rápido e prejudicado muitos produtores.
Nelson: Eu sou o Nelson, eng. agrônomo e doutorando na faculdade de agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e estou começando experimentos com a tuta. Meu trabalho de doutorado é sobre a traça, e o que me despertou interesse foi o causa do grande problema que a traça é para o tomateiro. Especialmente com essas “explosões” (excesso de traça em determinadas épocas/ regiões) todas, principalmente com produtores perdendo estufas inteiras por causa dela. A ideia do meu projeto é usar um fitormônio para induzir a defesa da própria planta contra o ataque de tuta, usando também, na defesa indireta, o tricograma preciosa, que é um parasitoide de ovos. Isso para ver se aumenta esse reconhecimento do parasitoide aos ovos da tuta. Estou começando agora. Fiz a coleta de insetos no campo e estou levando para laboratório para começar os experimentos. A ideia é achar formas alternativas de controle que não químico, pois a tuta tem altos índices de resistência a vários grupos químicos. E o Laboratório da UFRGS tem uma linha de controle biológico com utilização dos semioquímicos, dos fitormônios, e também do controle biológico. E a ideia também é fazer um bate papo com vocês sobre o que tem acontecido com a tuta, sobre a experiência de manejar de forma melhor o inseto, até em estrategia de usar o trichogramma ou alguma ferramenta de manejo da aplicação correta.
Sobre o momento ideal para a aplicação do trichogramma
Vespa Trichogramma | Crédito: Edgardo González Carducci
Camila: O que vemos muito hoje, ainda mais conversando com um produtor que perdeu toda a produção por causa da traça do tomateiro, é a questão de monitoramento, que é essencial quando se pensa em trabalhar contra a tuta. As vezes a gente deixa passar um pouco o monitoramento, porque acha que vai chegar, é só dar uma olhada nas plantas, ver a presença das tutas. Mas a grande questão é monitorar e saber o momento em que ela entra na estufa. E a partir do momento que ela entra, temos que ter a recomendação para a aplicação tanto química quanto orgânica (fica a critério de cada produtor).
Uma das formas de controlar sem químico é com controle biológico. Nesse caso, o que temos registrado hoje é o trichogramma preciosa, que é a especie que a gente também trabalha na empresa (BioIn). O índice de parasitismo é relativamente alto para a tuta, só que é importante manejar na hora correta e liberar o trichogramma na hora correta. Quando pensamos na liberação (e ele é um parasitoide de ovos), tem que ser liberado quando observamos as primeiras mariposas na armadilha. Por isso é tão importante o monitoramento, pois sendo um parasitoide de ovo, ele vai controlar a fase de ovo – Quando já existe a lagarta não vai acontecer o parasitismo, o que diminui muito a eficiência do produto e aí a larva se desenvolve, causa danos e gera uma nova prole, amplificando o problema.
Então quando pensamos em controle biológico, principalmente quando pensa em macrobiológicos e parasitoides ou predadores, temos que pensar que: Monitorou de forma correta, viu a entrada das primeiras mariposas, então já libera o trichogramma, não espera chegar num nível de controle. Essa é a recomendação que fazemos hoje. Porque quando existe entrada da traça na estufa, por encontrar um ambiente extremamente benéfico para ela se desenvolver (tanto em questão de temperatura, abrigo e alimento muito bom), as gerações vão acontecer e vão se desenvolver muito rapidamente. Por isso que o monitoramento aliado ao controle biológico é essencial.
Nelson: O ciclo total da traça é trinta dias, mas com alta temperatura e umidade pode ser acelerado.
Camila: Esse ciclo em estufa pode ser reduzido para vinte dias, e em um mês tu tem vários ciclos da tuta ali dentro.
Nelson: A dificuldade também está na própria biologia, porque os ovos podem ser colocados dos dois lados da folha (mas mais no lado abaxial) e depois que eclodem as lagartas entram direto para dentro de cada folha. Em no máximo duas horas a lagarta sai do ovo e entra dentro da folha, começa a consumir o limo foliar e fica protegida pela cutícula da folha. E depois ela sai de novo e começa a consumir toda a folha. E é muito rápido esse ciclo. Ou seja, para entrar com outro produto acaba sendo uma janela muito curta. E aí tem o adulto né. Mas a questão é a dispersão do inseto e as plantas hospedeiras (que funcionam como abrigo).
Os pontinhos na imagem são os trichogrammas, mini vespas usadas para o controle da traça do tomateiro!
Camila: Justamente! Quando a gente pensa em controle para tuta, por ela ter esse comportamento de se alimentar dentro de foliares, com químicos existe uma redução de controle, da eficiência. Sempre penso assim: Quando pensamos em controle de forma geral de pragas, temos que pensar sempre em manejo integrado e não utilizar só um tipo de ferramenta. A gente prefere que se utilize só controle biológico, mas se o produtor considerar que existe a necessidade de controle químico também, tem resultado, mas é preciso tentar utilizar esses produtos em consórcio. Nesse caso usar um químico seletivo. A gente já tem listas de químicos que são seletivos e podemos usar com o trichogramma. Para conseguir aplicar o trichogramma e não chegar num nível tão alto de infestação, porque se chega ao nível muito alto não existe mais o que fazer e a produção é extremamente danificada, a gente perde toda a produção.
Sobre consórcio de métodos e novas tecnologias no combate à traça do tomateiro
Armadilhas para captura da traça do tomateiro fazem parte do processo de controle e combate à praga
Camila: Exato, quando pensamos em um controle que não seja químico, não é tão simples assim a gente só pensar não vou usar um químico vou usar um biológico e pronto. Na verdade existe toda uma questão de manejo integrado. Temos que associar a utilização de monitoramento, ao ferormônio, a utilização de qual produto biológico vai utilizar, se é micro ou macrobiológico. Na questão do macrobiológico, o que temos mais associado à tuta é o trichogramma preciosa, é o que temos registrado. Já exite na bula, se entrarem na Agrofit tem a bula de trichogramma, tem as recomendações técnicas para uso quando a tuta também. São liberações semanais, de 12 semanas, de cerca de 50mil vespas por hectare. Aí tem que calcular para a área da estufa. A importância é justamente liberar desde o início, de acordo com a recomendação técnica, para não se perder essas primeiras gerações que estão chegando.
Então no momento que a gente já controla a primeira geração, manter esse controle ao longo da produção é mais fácil, e manter o monitoramento, que não deve ser feito só no início mas ao longo de todo o cultivo pra ter certeza se o controle está sendo efetivo ou não. E durante esse processo, associar outras ferramentas também, que podem ser utilizadas em agricultura orgânica quando a gente pensa nesse aspecto. Já existe uma iniciativa de tentar registrar Orius insidiosus, que é um predador muito voraz. Ele é predador tanto dos ovos quanto das lagartas, e referente às lagartas não se alimenta apenas da tuta absoluta. Ele é muito voraz com spodoptera frugiperda, por exemplo, que é uma lagarta que também é muito difícil de controlar quando se instaura na lavoura. É um predador que pode ser usado em consórcio com trichogramma. Então associar o que o trichogramma não conseguiu controlar em ovo, ajuda, e a liberação de Orius também pode ser utilizada quando se pensa em controle com macrobiológico.
Nelson: Orius ajuda no controle de tripes também!
Camila: Então assim, ferramentas existem, sé tem que manejar todas em consórcio, todas juntas. Eu sempre prego que não é o controle biológico que salva, nem o macro nem o micro, pois acredito na associação de ferramentas e que cada caso é um caso. Quando procuram uma linha sem uso de químicos, o controle biológico vai ser essencial. Tanto o macro quanto o micro vão crescer e nós, técnicos, temos que saber cada vez mais manejar esse tipo de controle. Que está dentro de uma ferramenta maior de manejo integrado e o monitoramento está integrado justamente com isso.
Na foto acima a mariposa da traça do tomateiro (tuta abosoluta). Abaixo, segue imagem dos danos que ela causa nas folhas Além das soluções apresentadas, Camila e Nelson mencionaram também o monitoramento com novas ferramentas tecnológicas, como armadilhas capazes de armazenar em dados um histórico da lavoura quanto ao manejo de pragas. Elas armazenam informações de como foi feito o manejo, do nível de incidência de pragas dentro da estufa e sobre a produção, auxiliando os horticultores a terem um norte maior para planejar o próximo ano de produção. Nesse caso, os especialistas indicam que para melhores resultados também é ideal inserir informações específicas das cultivares, época de plantio, temperatura e umidade do ambiente.
Saiba como aplicar trichogramma em sua lavoura: