De acordo com modelos climáticos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), é provável que até o final deste século as temperaturas da terra atingirão seu ponto mais alto desde o fim da era glacial mais recente.
É possível observar que a temperatura tem aumentado nos últimos anos. E não são somente os humanos que sofrem com o calor excessivo, acarretado por estas mudanças climáticas. As altas temperaturas podem afetar drasticamente o desenvolvimento de plantas nas diferentes fases das culturas, e, principalmente, durante a germinação, podendo reduzir ou inibir a germinação das sementes. O que ocasiona diversos prejuízos para o produtor.
O sucesso da produção olerícola dependerá de muitos aspectos, e dentre eles um dos mis relevantes é um aceitável estabelecimento de plântulas no campo, fator que está diretamente relacionado com a germinação das sementes.
Na produção olerícola, o período compreendido entre a semeadura e o estabelecimento das plântulas é uma fase crucial. E quem está envolvido na cadeia produtiva de hortaliças, busca constantemente sementes de alta qualidade, com condições que permitam a máxima germinação em um menor tempo possível e com máxima uniformidade de plântulas.
Utilizando sementes com alta germinação e vigor, os produtores terão maior probabilidade de êxito na formação da lavoura. Além disso, a utilização de sementes de alta qualidade fisiológica (germinação e vigor) irá minimizar o risco com perdas durante o estabelecimento de plântulas, seja na estufa (transplante) ou no campo (semeadura direta). Isto implica uma grande importância no segmento, visto que para um grande número de espécies olerícolas, cada semente irá produzir um único produto comercial (isto é, “cabeça” de alface ou repolho, raiz de cenoura, bulbo de cebola etc). Soma-se a isto o alto custo das sementes das novas cultivares ou híbridos de hortaliças.
Nem sempre o produtor tem o total controle sobre a temperatura, e dentro dos fatores que afetam o estabelecimento de plântulas, ela poderá vir a ser o mais importante. Cada espécie apresenta uma temperatura mínima, máxima, e ótima para a germinação, e dentro de cada espécie, podem existir diferenças marcantes entre as cultivares quanto à germinação nas diferentes temperaturas. Temperaturas muito baixas ou muito altas poderão alterar tanto a velocidade quanto a porcentagem final de germinação. Em geral, temperaturas baixas reduzem a velocidade de germinação, enquanto temperaturas altas a aumentam. Em condições de temperaturas extremas, a germinação poderá ser gravemente afetada, não ocorrendo, e em alguns casos, levando a semente à condição de dormência.
Na maioria das cultivares de alface, por exemplo, condições de altas temperaturas (acima de 30°C) durante a embebição das sementes pode levar a uma redução drástica do estande inicial. Nestas condições, dois fenômenos podem ocorrer: a termoinibição, que é um processo reversível, onde as sementes não germinam durante a época de altastemperaturas, mas voltam a germinar quando a temperatura volta ao nível adequado; e a termodormência, em que as sementes, após permaneceram embebidas em altas temperaturas durante um período prolongado, não germinarão mesmo após a redução da temperatura. Neste caso, as sementes necessitam de algum tratamento para superar esta dormência (também chamada de dormência secundária).
Em cenouras, temperaturas próximas de 35°C podem reduzir a germinação e o estabelecimento de plântulas no campo. Vale salientar que o estabelecimento da lavoura de cenoura é obrigatoriamente por semeadura direta, uma vez que esta espécie não aceita o transplante. Nesta espécie, o estabelecimento das lavouras tem se modificado nos últimos anos. Isto ocorreu em algumas regiões produtoras de cenoura no país, onde o gasto de sementes por área tem diminuído, em razão de aspectos como:
a) da utilização de semeadeiras mais modernas, onde as sementes, incrustadas ou não, são distribuídas mais uniformemente e com maior precisão;
b) da utilização crescente de sementes híbridas de maior custo;
c) do maior custo de mão de obra para realizar a prática do desbaste.
Mesmo tendo em vista que em certos casos o produtor tenta “fugir” da melhor época de plantio para alcançar preços mais compensadores, o plantio em épocas adequadas, em que a temperatura se aproxime do ideal para a germinação da espécie e cultivar, também deve ser considerado.
Neste sentido, a utilização de mudas produzidas em bandejas sob cultivo protegido vem a ser uma prática altamente interessante, não só pela melhor germinação e uniformidade das plântulas obtidas, como também da oportunidade de semeadura em épocas inadequadas para a espécie em questão. Esta tecnologia permite ao produtor de mudas colocar suas bandejas, logo após a semeadura, em ambientes controlados ou até mesmo em câmaras de germinação com temperaturas adequadas para a obtenção do potencial máximo de germinação.
Também é possível verificar certas vantagens na prática cultural de utilização de cobertura plástica do solo (mulching). Entretanto, são necessários cuidados quanto à semeadura de certas espécies que requerem temperaturas mais amenas para a germinação. Isto porque a utilização de plásticos escuros proporciona a tendência à maior absorção de calor. E em condições de verão a temperatura do solo pode ultrapassar 40°C, o que é prejudicial para a germinação da maioria das espécies olerícolas.
A técnica do condicionamento osmótico (seed priming) também pode ser empregada com bastante sucesso nas condições de estresses, como é o caso das temperaturas elevadas. O condicionamento osmótico consiste em uma hidratação controlada das sementes, suficiente para promover atividade pré-metabólica, sem permitir a emissão da radícula. De forma geral, o tratamento consiste em embeber as sementes em uma solução osmótica, por um determinado período de tempo e sob certa temperatura. Em seguida se faz uma secagem para o grau original de umidade. Isto torna este tratamento vantajoso, uma vez que as sementes podem ser manuseadas e/ou armazenadas; a possibilidade de armazenar as sementes em escala comercial por determinado período após o tratamento, sem a perda do benefício, constitui fato altamente desejável. O condicionamento osmótico tem sido utilizado principalmente em sementes de hortaliças e flores, com o objetivo de melhorar a velocidade de germinação, a uniformidade das plântulas e algumas vezes a germinação total, especialmente em condições edafoclimáticas adversas, como em temperaturas superótimas. Em alface, por exemplo, este tratamento permite a germinação das sementes em condições de altas temperaturas (acima de 30°C), evitando assim a termoinibição e a termodormência. Em geral, este tratamento não é padronizado e exige uma metodologia adequada para cada espécie, cultivar e até para lotes de sementes. Empresas especializadas em tecnologia de sementes fazem este tipo de tratamento.
Finalmente, a utilização de sementes de alta qualidade, aliada a um maior conhecimento dos fatores relacionados com a germinação da espécie em questão, permitirá ao produtor a maximização e o desenvolvimento das plântulas, seja na estufa ou no campo. A máxima germinação com maior rapidez e principalmente com maior uniformidade de plântulas poderá garantir o sucesso do empreendimento.
Fonte: Grupo Cultivar