Aquaponia: Consórcio de peixes e hortaliças aumenta a rentabilidade de produtores

Unindo conceitos de cultivo hidropônico e piscicultura, a AQP Brasil é pioneira em aquaponia no Rio Grande do Sul. Fundada em 2016 e com instalação em funcionamento há oito meses, a empresa trabalha nos segmentos de aquaponia, aquacultura e meio ambiente. E além de estimular um tipo de produção que possibilita dupla renda, por meio da comercialização de hortaliças e peixes, a AQP vai de encontro à sustentabilidade e proporciona uma alimentação mais saudável aos brasileiros, tendo impactos educacionais, ambientais e revolucionando a horticultura.

A aquaponia é a junção da hidroponia (produção de vegetais sem solo) e da aquacultura (produção de organismos aquáticos, seja peixes ou qualquer organismo produzido em água). Nela, ao contrário da hidroponia (onde são usados sais e químicos na adubação), é realizado o aproveitamento da água e do efluente da piscicultura, utilizados para para irrigar as plantas. “É um sistema de recirculação, em que a água nunca é jogada fora. Ou seja, ela sai da produção de peixes, passa por um tratamento biológico (onde a matéria orgânica vinda dos peixes é transformada em nutrientes para as plantas), e é disponibilizada para as hortaliças, passa por suas raízes, é recolhida e volta para o tanque de peixes. Então é um sistema fechado de recirculação”, revela Fagner Tafarel, diretor comercial da AQP Brasil.


Mudas da ISLA Sementes cultivadas no sistema de aquaponia da AQP Brasil

Na AQP, a produção ocorre em uma área de estufa, dividida entre a piscicultura (onde está o começo e fim do sistema) e a produção de hortaliças, estas separadas por uma sala com antessala. A antessala evita a entrada de insetos e pragas, garantindo maior qualidade ao sistema na íntegra. “Na piscicultura temos a produção de peixes em sistemas elevados, onde cultivamos os peixes e dentro desse cultivo usamos hoje rações comerciais. Então a água passa por um sistema de tratamento, é tirada do fundo do tanque, passa por um sistema de decantação, de filtragem biológica e dessa filtragem ela passa para as plantas. E ela chega nas plantas com os nutrientes necessários para que essas se desenvolvam saudáveis”, explica Fagner.

Mas a grande inovação do projeto da AQP Brasil é ter o primeiro módulo de aquaponia comercial. “Isso daqui (produção da AQP) é um módulo de 510m², que é interessante para uma família já começar a ter uma renda. Ele tem capacidade de produção de hortaliças da ordem de cerca de 700 folhosas por semana. E peixes entre 2 e 4 toneladas por ano. Isso tudo com um módulo só. O produtor pode ter quantos precisar, conforme o que ele quiser produzir. Então eles são módulos mas podem ser integrados em um sistema maior”, comunica.


Produção de alfaces da AQP a todo vapor!

O sistema aquapônico é um organismo vivo, que gera vida pela vida. “Eu sou muito apaixonado pelo processo porque a gente tá conseguindo trazer algo que é orgânico por natureza. E tô conseguindo mostrar um bom resultado para o produtor. E eu tenho uma segurança de dizer que o sistema precisa ser orgânico, que ele não tem como não ser orgânico. A produção está respondendo bem a gente tá tendo bom resultado, um ciclo de produção bastante bom. Estamos trabalhando com os materiais da ISLA  e bem felizes com os resultados. Aqui temos a Alface Itaúna Frisée, a Gamboa“, alega.

Como funciona o sistema de aquaponia

Estufa especial para piscicultura é separada da estufa de produção de hortaliças por uma câmara com antecâmara (onde se enxerga o piso de madeira) .Ao fundo é possível ver a estufa de hortaliças!   

Para realizar o processo evitando a perda de nutrientes, o sistema trabalha por gravidade. Nele, a água, os restos de ração e as fezes dos animais são tiradas do fundo do tanque de peixes (processo automático devido ao desnível). Em seguida passam pelo decantador, que é um pouco mais baixo no terreno e conta com sistema de filtragem biológica. Neste existem alguns compartimentos que fazem a água “desacelerar” e ocorre a decantação e pós decantação (passa por filtro biológico, que tem câmaras de filtragem). “É um sistema vivo. Aqui estão os peixes, nos tanques de criação. A água é retirada pelo fundo, do fundo vai para o sistema de decantação, da decantação para a filtragem biológica. Sendo que da decantação eu tenho a parte que o decantado (o meu sólido) é tirado por um outro processo que é chamado de mineralização, onde vou fazer o tratamento, coletar água e jogar no sistema de novo como adubação. Então é um sistema totalmente fechado. A água continua por gravidade, vai por tubulação até a outra estufa (de hortaliças)”, resume Fagner.

Tanque de piscicultura ao fundo, sistema de decantação e sistema de filtragem biológica 

A espécie do peixe também define os rumos da produção de hortaliças, assim como o tempo em que será possível comercializar os animais.  A escolha da espécie deve ter relação direta com a experiência que o produtor busca. Na AQP, no momento são utilizadas carpas húngaras (que aguentam temperaturas mais baixas – 10º a 15º se bem alimentadas) e tilápias.  “Em torno de 25º tu tens a temperatura ideal para as tilápias, que tem valor agregado. Elas são difíceis de produzir no frio, então em ambiente protegido se tem vantagens com essa produção. Pode inclusive aquecer a água e ter essa temperatura ideal para esses peixes”, destaca Fagner. Ele menciona ainda que é possível ter uma estufa de produção de tilápia no inverno enquanto nos açudes, do lado de fora, as pessoas podem produzir outros peixes.

Boa alimentação dos peixes garante sucesso na produção de hortaliças
O uso de macrófitas possibilitam a redução de custo ao produtor, que pode substituir até 30% da ração dos peixes com essas pequenas plantas

Como a nutrição das hortaliças é realizada via adubação que tem base nas fezes dos peixes, é crucial que a alimentação dos animais seja restrita e extremamente nutritiva. “Hoje os peixes daqui tem uma alimentação balanceada. Os adultos comem de três a quatro vezes por dia. Hoje estão em uma dieta restritiva, que é de alimentação natural. Isso daqui são pequenas macrófitas, são lêminas e azolas, essa que parece uma florzinha é uma azola e essa miniatura aqui é a lêmina”, informa. O uso de macrófitas possibilitam a redução de custo ao produtor, que pode substituir até 30% da ração dos peixes com essas pequenas plantas, isso em dose diária. Além disto, é possível produzir as macrófitas dentro do sistema. “Nesse outro tanque, que está aguardando o próximo ciclo de peixes, a gente já está preparando a alimentação verde. Então quando entrar com os alevinos aqui eles já vão ter bastante coisa para comer. Essas plantas tem boa resistência, e olha a quantidade de biomassa. Em condições ótimas de 48h a 72h elas dobram a quantidade”, elucida.  Horticultores que pensam em investir em sistema de hidroponia podem encontrar as macrófitas em áreas alagadas, pois as plantas são nativas.


Na esquerda azolas a à direita lêminas

No Brasil ainda não existe uma ração especial para a aquaponia e a AQP tem como intuito preencher esta lacuna, desenvolvendo uma ração que não pense só no peixe, mas também no resultado do efluente que alimentará as plantas.

Cuidados com todo o ecossistema

Os erros mais comuns são quanto ao desbalanço na área da piscicultura (dar muita ração aos peixes) e ao monitoramento da qualidade da água.

Temperatura ideal das estufas de tilápias:  O ideal é que tenha 25º. “Aqui no RS, no inverno, é bem complexo de se manter, por isso estamos com um esquema de aquecimento a lenha aqui. Escolhemos lenha por conta de ser um região com abundância de madeira. Aqui não vai ser um custo que vai onerar o produtor. Mas aí fica a critério do que ele tem disponível mesmo”, expõe Fagner. “Acontece que a temperatura do ar aumenta muito mais rápido que a temperatura da água. Então pode ver, hoje estamos com a estufa toda aberta na parte das plantas, e com a temperatura de 23.5º, o que é bastante agradável para as hortaliças. E na piscicultura estamos com ela toda fechada para manter o máximo de temperatura possível, para que ela o efeito estufa do calor para aquecer a nossa água e mantê-la com uma temperatura mais alta”.

Cuidados fundamentais com a água: Monitoramento do pH e da amônia, calagem para isolar o pH e uso de plantas para alimentação dos peixes, que podem baixar de 20% a  30% o custo de produção.

Cuidados com os peixes: O mesmo cuidado que é necessário com a genética das plantas, é fundamental para o desenvolvimento e saúde dos peixes.  Neste caso, a indicação é investir em alevinos. “Assim como procuramos os materiais da ISLA para trabalhar aqui dentro e ser algo diferenciado, procuramos os produtores de alevinos, que são mapeados e visitados pelo Salomão, nosso diretor técnico e veterinário. Após visitas, ele nos traz o que há de melhor quanto ao desempenho de animais, isto para garantir o melhor desempenho zootécnico possível”, explica Fagner. Outro cuidado fundamental é não provocar o stress nos animais, o que pode acontecer quando eles são submetidos a condições climáticas diferentes das que estão naturalmente expostos, pois isso pode fazer com que eles comam menos e até mesmo acarretar no risco de morte.

Tipo de peixe: Outro fator chave é saber qual tipo de peixe é capaz de gerar rentabilidade. “Indicamos que os produtores não usem traíra, por exemplo, que é um peixe carnívoro. A conversão alimentar dela é de 20kg-25kg pra 1kg. Então ela tem que comer 25kg de alimento para virar 1kg de carne. Já a Tilápia a gente consegue fazer com 1,7kg de ração o total de 1kg de carne, então é uma relação muito boa. É importante analisar essa relação”, informa Fagner.

Aplicações para controle de pragas: “Fazemos adubações foliares também, aí pensando em cálcio e boro, que são usados na agricultura orgânica e a gente consegue colocar aqui. Então tudo que tu podes usar na produção orgânica/ agroecológica, usamos aqui. A não ser bactericidas, como a calda bordalesa. Fazemos o manejo de fungo com leite de vaca cru e vem funcionado muito bem, por exemplo”.

Como a respiração dos peixes se torna nutriente para as hortaliças aquaponicas
Uma alimentação saudável e equilibrada para os peixes garante a qualidade da alimentação das plantas! Na imagem você confere os peixes sendo alimentados 

Na água um dos grandes problemas são os registros de amônia. Quando o peixe respira, ele retira oxigênio da água e expele amônia, e essa amônia nada mais é que o nitrogênio que o produtor compra para suplementar/adubar a lavoura. “Com a filtragem biológica a gente transforma essa amônia em nitrito, e esse nitrito em nitrato, que é o que os horticultores usam na adubação em folhosas, principalmente. Então a gente cria um ecossistema e tenta controlá-lo, como se fosse um lago natural. Há uma transformação de amônia pelos peixes, em nitrato pela bactérias e, por fim, as plantas retiram o nitrato da água e ela volta com mais qualidade para os peixes. Então é uma relação de protocooperação, onde os peixes geram alimentos para as bactérias, as bactérias geram nutrição para as plantas e as plantas melhoram a qualidade da água para os peixes”, resume Fagner.

O que é fundamental para um produtor que está começando uma aquaponia

A produção de Alface Itaúna Frisée em sistema aquaponico está alcançando excelentes resultados

“Temos que pensar no sistema como um processo muito mais complexo, porque eu tenho três diferentes organismos: as plantas, os peixes e o mais importante, os microorganismos. Qualquer aplicação que eu fizer tenho que pensar em todos eles. Se eu aplicar um bactericida, por ex, para as plantas pode ser bom, para os peixes pode nem fazer efeito, mas se chegar a chegar em contato com a água eu posso acabar com o meu filtro biológico, que são as bactérias benéficas. Logo, o meu sistema vai colapsar”, explica Fagner.

Fazer um espaço na própria estufa (como a antecâmara da AQP Brasil) para garantir o controle fitossanitário também é fundamental, pois possibilita menos incidência de pragas na produção. Outro fator importante é o conhecimento do manejo agroecológico e orgânico – toda aquaponia será um sistema de protocooperação, logo, automaticamente será um sistema orgânico.

Qual o custo de uma aquaponia?
“Basicamente a semente, a produção de muda (e você pode produzir sua própria muda também) e o manejo. Você não tem um custo de adubação. Na piscicultura eu já tenho o custo de ração para alimentar os peixes, então na verdade estou reaproveitando esse material para lucrar com a produção de hortaliças. Ao invés de estar descartando isso daqui num arroio, num rio, e gerando uma eutrofização, eu faço um tratamento e aproveito”.

Qual é o produto mais rentável na aquaponia?

Por conta do ciclo, as hortaliças acabam se tornando os produtos mais rentáveis. “Os peixes podem ser comercializados em pelo menos seis meses, (a tilápia seis meses, as carpas de oito meses a um ano). E as hortaliças não, elas são muito rápidas”, explana Fagner. Além disso, os gastos com os peixes são maiores, devido a ração e a necessidade de um controle mais rígido, que envolve conhecimento sobre o tipo de peixe que vai ser produzido, o peso do animal e qual a taxa de conversão alimentar, por exemplo. “Se o produtor não quer produzir peixes para comercializar, é possível utilizar eles para manter o ciclo aquapônico, e neste caso pode-se trabalhar com peixes ornamentais, como as carpas coloridas. Aí se mantem os peixes para o resto da vida e ainda se produz hortaliças. Uma carpa vai viver 20 anos”, destaca. Fagner ainda sugere que produtores podem criar espaços de interação com seus consumidores, realizando visitas à propriedade e aproximando os clientes, e que neste caso, estruturas com vidros e peixes coloridos seriam um atrativo.

Como é a  produção da AQP
Além de folhosas, a AQP Brasil está investindo em vasos com irrigação via gotejamento, onde expandirá a produção, investindo também em frutos. Variedades como o Pepino Durango, Tomate Híbrido Dolcetto e Tomate Híbrido Wanda estão sendo cultivadas! “A ideia é mostrar que na aquaponia também é possível fazer produção de outras variedades de hortaliças. Queremos mostrar que tem potencial para produção de materiais com alto valor agregado”, expõe Fagner.

Além de produzir e atuar apresentando o sistema de aquaponia aos produtores rurais, a AQP desenvolve um trabalho com as escolas da região, entregando hortaliças de alta qualidade para que integrem a merenda escolar do município. “Não conheço outro município que ofereça produto aquaponico na merenda escolar. É uma coisa bem legal, a gente está muito feliz que está acontecendo Para nós como empresa é a validação que nosso produto tem qualidade, e tem impacto positivo. Então nós podemos mostrar para os produtores que eles conseguem vender produtos que vem da aquaponia, inclusive para instituições e para uma conta pública. E também mostramos que é possível fomentar uma merenda escolar mais saudável”, comenta.

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Modelo de sistema de aquaponia | Fonte: AQP Brasil

Hoje, o carro forte da AQP são as folhosas, especialmente a variedade crespa (solicitada pelas escolas). “As escolas pagam R$3,13 por unidade, por exemplo. Pelo processo é barato, mas é um preço rentável para nós. Tem que levar em conta a questão da sustentabilidade, de não gerar resíduo, de tu ter certeza que esta oferecendo para o tua família algo sem agrotóxico”, menciona Fagner.

O foco da empresa, no momento, é receber produtores, escolas e instituições para mostrar que a aquaponia é  uma realidade. “Temos um produto que é o AQP educa, que é um sistema domiciliar de aquaponia e na verdade é um sistema educacional, que é um tanque de peixes com uma horta em cima. É uma ferramenta educacional, que é para verem como funciona um ecossistema. E imagina tu mostrar para a tua família e ter em casa um sistema que tu mesmo fez. Que tu sabe como foi produzido, que tem 100% de garantia de qualidade”, comenta.

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