OCORRÊNCIA E CONTROLE DE NEMATOIDES EM CULTIVO DE COENTRO E SALSINHA

O Coentro e a Salsinha são condimentos muito utilizados na cozinha brasileira – e, por consequência, geram alta demanda de mercado. Essas duas variedades de tempero são, eventualmente, acometidas por infestações por nematoides, o que pode representar prejuízo significativo para os produtores. Em regiões produtoras do Nordeste, os problemas são frequentemente causados por Rotylenchulus reniformis, conhecido popularmente como nematoide reniforme, em plantações de Coentro, enquanto, no Sul e Sudeste, a maior parte das ocorrências se deve à infestação por Meloidogyne spp., popularmente nematoide das galhas, em Salsinha. Conheça, abaixo, as principais características e sintomas de cada espécie e as formas de manejo para controle de nematoides na produção dessas cultivares.

NEMATOIDE DAS GALHAS – MELOIDOGYNE SPP.
As espécies de nematoide das galhas são parasitas de raízes e de caules subterrâneos. Apresentam atividade durante o ano todo em climas quentes e solos úmidos e possuem ciclos de vida mais longos em climas frios. Se movimentam no solo e infectam raízes de coentro e salsinha nos estágios vermiforme ou juvenil de segundo estádio, penetrando nas raízes e se movimentando até as proximidades dos vasos condutores, onde se tornam sedentários e se desenvolvem até a fase adulta. 

IDENTIFICANDO SINTOMAS
É possível notar a contaminação por Meloidogyne por meio da identificação das galhas. Em coentro, geralmente elas estão presentes de forma isolada, com pequenas dimensões, ao longo das raízes da planta (Figura 1). Em salsinha, as galhas são numerosas e mais próximas entre si (Figuras 2 e 3).


[FIG. 1 – COENTRO]


[FIG. 2 – SALSINHA]


[FIG. 3 – SALSINHA]

NEMATOIDE RENIFORME – ROTYLENCHULUS RENIFORMIS
O Rotylenchulus reniformis é conhecido popularmente como nematoide reniforme devido ao aspecto morfológico da fêmea adulta, semelhante à forma de um rim. Todas as formas de juvenis, machos e fêmeas imaturas dessa espécie sobrevivem no solo. O parasita se movimenta através do parênquima cortical da raiz, causando a morte de células nessa área, e se estabelece no floema, onde inicia o processo de infecção e permanece até tornar-se adulto. A consequência é  o crescimento reduzido do sistema radicular da planta, o que impacta diretamente o desenvolvimento total da mesma.

IDENTIFICANDO SINTOMAS
Redução no número de raízes e no crescimento da planta são os principais sintomas dessa infestação. Além disso, na parte aérea, podem ocorrer o amarelamento ou branqueamento das folhas, que também podem murchar, eventualmente.

OCORRÊNCIA DE OUTROS NEMATOIDES EM COENTRO E SALSINHA
Outros nematoides que também podem acometer essas cultivares, porém sem causar muito dano: Aphelenchoides Fischer, Aphelenchus Bastian, Aphelenchus avenae Bastian, Criconemoides Andrássay, Helicotylenchus dihystera (Cobb) Sher e Tylenchus Bastian.

MANEJO
O controle de nematoides não é algo fácil de fazer. Esses microorganismos habitam o solo e, se encontrarem condições favoráveis de umidade e temperatura, conseguem facilmente se multiplicar de forma rápida e se proteger da ação de substâncias como agrotóxicos. 

Outros fatores que podem potencializar o problema são o cultivo intensivo ao longo do ano, promovendo sucessão de culturas de uma mesma espécie e mantendo a infestação de um ano para outro, e o cultivo em pequenas áreas (como é feito na maior parte das vezes para Coentro e Salsinha) sem alternativas para plantio durante a rotação de culturas. 

Várias medidas são necessárias para fazer o controle. As principais são:

A) PREVENÇÃO
É importante esclarecer: a erradicação dos nematoides é praticamente impossível. Na imensa maioria das vezes, uma vez instaurada a infestação, o produtor fica restrito a conviver com ela e administrá-la. A principal forma de disseminação dos nematoides é a passiva: acontece pela movimentação do solo, através da água, de implementos agrícolas contaminados, homem e animais nas áreas de cultivo e, principalmente, por mudas contaminadas (responsáveis pela contaminação à longa distância na maioria dos casos). Portanto, usar jatos fortes de água para remoção de solo aderido a máquinas e implementos antes da entrada em outras áreas é uma medida preventiva bastante relevante. Realizar amostragem em mudas adquiridas para verificar a inexistência desses patógenos antes de realizar o plantio em novas áreas e outras já cultivadas também se faz necessário, assim como conhecer o histórico da área escolhida para cultivo.

B) ÉPOCA E FORMA DE PLANTIO
A semeadura em bandejas com substrato esterilizado em vez da semeadura direta com o transplantio da muda realizado em cerca de duas semanas e meia pode ser uma alternativa para evitar contaminação do Coentro. Considerando o ciclo médio da planta, ela poderá ser comercializada em torno de 17 dias após o transplantio, reduzindo o nível populacional de reniformis e, consequentemente, a morte das plantas e a perda de produção. 

C) ROTAÇÃO DE CULTURAS
Rotacionar cultivos de hortaliças com culturas que não hospedem um determinado patógeno tem como finalidade a eliminação total ou parcial destes organismos pela subtração do seu alimento. Plantas como couve- chinesa, mostarda, mostarda preta e repolho apresentam bons níveis de resistência ao nematoide das galhas, e podem ajudar a viabilizar os cultivos subsequentes de Coentro e Salsinha. Cultivares de milho e milheto resistentes podem ser  uma ótima opção para áreas infestadas, pois reduzem a população de Meloidogyne e de Rotylenchus reniformis.

D) ALQUEIVE
Manter o terreno limpo, sem culturas ou plantas daninhas, realizando capinas manuais, arações e gradanagens, associando ao uso temporário de herbicidas, ajuda a reduzir a existência de nematoides em uma determinada área. O alqueive requer revolver o solo de 20 em 20 dias para expor os nematoides à radiação solar. Essa exposição somada a falta de alimentação devida à ausência de plantas leva os nematoides à morte por inanição e dessecação. É recomendável manter o solo um pouco úmido para permitir a eclosão dos ovos e o movimento dos nematoides juvenis, pois essa atividade agiliza o processo de consumo das reservas energéticas e a consequente inanição. ATENÇÃO: Para o nematoide reinforme, o alqueive não é uma opção, visto que os estádios móveis da espécie permanecem vivos no solo por longos períodos sem hospedeiros e com grandes variações de temperatura. Além disso, o alqueive requer lidar com os custos de manter o solo limpo por um determinado tempo, com redução de lucros para o produtor e risco de erosão em regiões muito chuvosas. 

E) PLANTAS ANTAGONISTAS
As plantas antagonistas podem permitir a invasão de nematoides, porém não permitem seu desenvolvimento até a fase adulta, reduzindo os níveis populacionais em diferentes culturas. Crotalárias, cravo-de-defunto e mucunas são exemplos de plantas antagonistas utilizadas com sucesso para esse fim. Crotalárias e mucunas também podem ser utilizadas como cultura de cobertura ou serem incorporadas ao solo na forma de adubo verde. 

F) ELIMINAÇÃO DE RESTOS CULTURAIS E TIGUERAS
Incorporar resíduos de culturas anteriores é um risco de infecção, pois os nematoides alojados em restos de raízes e nas áreas de plantio sobrevivem e se tornam protegidos da ação de nematicidas e outros agentes físicos e biológicos de controle. O ideal é a remover todo sistema de plantios anteriores e efetuar a queima dos resíduos, principalmente dos sistemas radiculares. 
Além disso, a matéria orgânica estimula o aumento da população de microrganismos do solo, incluindo inimigos naturais dos nematoides, e libera substâncias nematicidas com sua decomposição. Resíduos de brássicas, sorgo, nim, mucunas, bagaço de cana, palha de café, torta de mamona, feijão-de-porco e cravo-de-defunto são exemplos de materiais orgânicos. Recomendado para a exploração de pequenas áreas. 

J) SOLARIZAÇÃO
Esta prática consiste em cobrir o solo úmido com uma camada de lona transparente, geralmente de polietileno (50 μm a 150 μm), permitindo a entrada dos raios solares que promovem o aquecimento nas camadas mais superficiais. Esse aquecimento reduz significativamente a população dos nematoides e de outros patógenos do solo, além de promover um controle parcial de plantas daninhas. A eficiência do método e a temperatura do solo reduzem com a profundidade, mas efeitos positivos são obtidos com a cobertura do solo por um período de 3 a 8 semanas, condições em que a temperatura do solo chega a atingir de 35 °C a 50 °C até os 30 cm de profundidade, dependendo do tipo de solo.

K) CONTROLE BIOLÓGICO
Vários organismos presentes no solo são parasitos de nematoides, com ênfase para os fungos e bactérias, que são os mais promissores organismos para utilização no controle biológico. Atualmente, é possível encontrar produtos biológicos com eficácia no controle de nematoides, com microrganismos como Paecilomyces lilacinus (Thom.) Samson, Pochonia chlamydosporia (Goddard) Zare & Zams, Bacillus subtilis Cohn, Arthrobotrys Corda, rizobactérias em suas formulações.


Fonte: Embrapa Hortaliças – Circular Técnica 149

Fotos: Jadir Borges Pinheiro

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