A busca por métodos de produção mais sustentáveis, que garantem a saúde dos alimentos, do solo e do meio ambiente é cada vez mais comum. E os resultados de práticas que vão por este caminho são positivos do ponto de vista ecológico, econômico e social. O monitoramento de pragas e doenças durante o manejo da cultura do pimentão, por exemplo, se destaca por ser capaz de reduzir em até 30% o uso de agrotóxicos na lavoura. A constatação é do entomologista Jorge Anderson Guimarães, responsável pelas pesquisas relacionadas à produção integrada na Embrapa Hortaliças (DF). A prática é um dos procedimentos recomendados pela produção integrada do pimentão (PIP) e proporcionou a economia ao ser associada a outras medidas como o controle biológico.
O pesquisador explica que geralmente o produtor opta por realizar uma aplicação pré-definida de agrotóxicos para lidar com pragas e doenças, conhecida como “calendários de aplicação”. De acordo com ele, adotar medidas como o cultivo integrado e práticas de monitoramento e controle biológico impactam na diminuição dos custos com insumos, e especialmente na saúde dos produtores rurais. “Essas práticas atendem a outra preocupação desse sistema de cultivo: assegurar a saúde do produtor”, informa o pesquisador. De acordo com Guimarães, essa prática, que não se resume ao pimentão, tem como consequência o uso desnecessário de produtos químicos, algumas vezes não registrados para a cultura.
Manejo da cultura do pimentão | Foto por Jorge Anderson Guimarães
No último relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), referente ao período 2013/2015, foram analisadas em todo território nacional 243 amostras de pimentão, sendo que 214 delas apresentavam resíduos de agrotóxicos não autorizados para a cultura. Dessas, 21 foram consideradas insatisfatórias exclusivamente por conter resíduos não autorizados, mesmo em concentrações inferiores a 0,001 mg/kg.
“Basicamente, esses dois procedimentos que vieram à tona nos relatórios do PARA e da Anvisa podem ser corrigidos com a adoção da produção integrada, uma vez que ela disciplina o uso de produtos químicos, restringindo a utilização àqueles recomendados e registrados”, explica Guimarães.
Origem da soluçãoInvestir em materiais de alta qualidade auxilia no processo de cultivo e na redução de uso de agrotóxicos/ produção orgânica – Pimentão Sucesso da ISLA Sementes
Sensível a pragas e doenças, o pimentão figura entre as quatro hortaliças mais suscetíveis a estes problemas, com o agravante de existirem poucos produtos químicos registrados especificamente para a cultura. As consequências dessas duas questões se refletiram nos relatórios do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Anvisa, divulgados a partir de 2010. Os resultados apresentaram amostras de pimentão com altos índices de contaminação em virtude do uso de produtos químicos não registrados para a cultura e com limites de resíduos acima dos permitidos pela legislação.
Esses resultados impulsionaram a demanda do ministério para que fosse elaborada a Produção Integrada do Pimentão (PIP), no início de 2013, com a assinatura do Termo de Execução Descentralizado (TED) entre o ministério e a Embrapa Hortaliças. Em 2017 essa cultura ocupava uma área de 11.188 hectares em todo o Brasil, com produção de 555 mil toneladas. E com a missão de estabelecer as boas práticas, pesquisadores da Embrapa Hortaliças (DF), com o apoio de técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) e de agricultores, identificaram os principais problemas enfrentados pelos produtores do Núcleo Rural de Taquara, que é o maior produtor de pimentão do Distrito Federal.
Os dados coletados em visitas e reuniões subsidiaram a elaboração de um conjunto de boas práticas agrícolas para a Produção Integrada do Pimentão (PIP), que estão contempladas em 12 publicações e relacionadas no documento “Normas Técnicas e Documentos de Acompanhamento da Produção Integrada do Pimentão”, editado pela Embrapa Hortaliças. As diretrizes sobre o processo de adoção da produção integrada do pimentão também constam na publicação!
Passo a passo para cumprir a produção integrada
Produção de Pimentão All Big, da ISLA Sementes
A Norma Técnica Específica (NTE) da PIP contempla 18 áreas, nas quais estão definidos os requisitos obrigatórios, recomendados e proibidos para cada etapa do sistema de produção integrada. Para viabilizar esse sistema de produção, no qual se pode obter a certificação do produto com o selo “Brasil Certificado”, a NTE da PIP exige a aplicação de boas práticas agrícolas durante todas as fases de cultivo, colheita e pós-colheita.
O documento orienta os horticultores sobre os procedimentos que devem ser adotados com relação a vários processos, como irrigação, nutrição e manejo do solo, monitoramento e manejo de pragas e doenças, orientações para a aplicação de agrotóxicos, manuseio dos frutos na pós-colheita e coleta de amostras para análises de resíduos. “Essas práticas possibilitam o manejo adequado desde a etapa de cultivo até a disponibilidade do alimento para a comercialização”, observa o pesquisador, enfatizando que qualquer agricultor pode implementar as boas práticas, independentemente da adesão à produção integrada.
Todas as ações realizadas na condução da lavoura devem ser registradas em “cadernos de campo”. São essas anotações que vão possibilitar ao produtor atender às categorias “Registro de informações” e “Rastreabilidade”. Elas são exigidas no momento da etapa de fiscalização, que é realizada por meio de empresas credenciadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para a avaliação da conformidade e obtenção da certificação.
O técnico da Emater Carlos Banci, envolvido nas discussões sobre a elaboração do sistema de produção integrada, reforça que aqueles que buscam seguir as recomendações, principalmente, relacionadas às ações gerenciais, estão tendo resultados melhores que a média dos agricultores.
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Dicas para o sucesso no manejo de pimentões
Fonte: Embrapa Hortaliças