A fertilização com dejetos animais pode trazer inúmeros benefícios para os horticultores, especialmente quando existe o conhecimento dos processos de base da produção de alimentos, como seria o caso da ciclagem dos nutrientes visando nutrir as plantas. Além de garantir uma nova forma de renda, via pecuária, a presença dos animais auxilia na qualidade do solo, tendo em vista que pode garantir a fertilização deste e auxiliar horticultores que trabalham de forma orgânica. Outro benefício é a proteção das lavouras, tendo em vista que é possível utilizar a urina como repelente de pragas e insetos.
Uso de dejetos animais na biofertilização e proteção das lavouras é uma das formas econômicas e eficientes para garantir o sucesso da produção orgânica
O produtor Albert Nogueira, de Araruama (RJ), está há 25 anos trabalhando com um sistema que vai em direção a produção orgânica e sustentável. Destes, há dois anos tem certificado de produtor orgânico, o que exige uma série de cuidados na hora de manejar e produzir os materiais. Entre os critérios que precisa seguir, está o de não usar agrotóxicos nas plantações, não realizar queimadas na roça e adotar adubos naturais. “Os defensivos e fertilizantes são todos naturais”, salientou.
Acima preparo de biofertilizante orgânico a base de ovos, café e cascas de banana, que é aplicado no solo ou via foliar para nutrição das plantas. Abaixo, preparo de solução com urina de vaca, óleo de girassol e detergente neutro, para proteção da lavoura contra pragas
Em sua propriedade, na fertilização do solo são utilizados os dejetos de vaca, que além de tudo, ao serem pulverizados na lavoura, afastam insetos indesejados devido ao seu odor, garantindo a sanidade das plantas e tornando seu crescimento saudável. “A urina de vaca é o principal fertilizante natural que a gente tem pra ureia em forma natural. A urina é usada tanto como biofertilizante como para combate a pragas e insetos invasores, cochonilhas e fungos. Pode ser aplicada tanto de forma foliar quanto no solo. Quando faz a ordenha das vacas, quando vai arriar, a vaca naturalmente já faz xixi, então já se coleta”, explicou Albert. O objetivo não é matar os insetos e pragas, mas espantá-los.
Albert revela que na hora de colocar o produto nas plantas, para aplicação foliar, é usada uma calda de base fixadora, que é uma mistura de óleo de girassol com detergente neutro. A escolha do óleo de girassol é por conta da densidade, que é menor que o de soja (que seria mais barato), e não impacta negativamente a respiração da planta. O método é aplicado nas folhas de alface e couve. Sem esse cuidado as lagartas acabam comendo as folhas e impactando na comercialização do material, que adquire visual picotado e não chama tanta atenção no ponto de venda.
Área de produção de Albert
Este método alternativo, aliado a caldas e receitas orgânicas que garantem a nutrição e a proteção das plantas, vem garantindo o bom desenvolvimento dos materiais. Para manter as características orgânicas, receitas são preparadas na propriedade com recursos do meio, como é o caso de uma receita que leva cinco cascas de ovo, cinco cascas de banana e cinco colheres de borra de café – materiais de fácil acesso, que geralmente estão a disposição de quem vive no campo. Basta juntar os três componentes para o preparo de um biofertilizante totalmente orgânico, com aspecto de pasta. Este pode ser aplicado junto a terra da planta e sem limite de quantidade.
“O uso de dejetos animais remete as primeiras civilizações, o principal adubo e o primeiro adubo usado foi justamente os dejetos dos animais, seja fezes ou urina”, relembra a doutora e especialista em solos, Amanda Posselt Martins. Ela salienta que o cuidado deve ser na dosagem, que sempre deve respeitar o que seria o natural de uma aplicação de urina na área, ou seja, o equivalente ao animal estar vivendo no espaço e urinar nas plantas. “São aproximadamente dois litros de urina pra uma área de 0,35m²”, destacou, relembrando ainda que é necessário lavar com atenção os materiais antes de consumir.
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Fonte: Reportagem do G1
Fotos: Reportagem G1